A agricultura tem a
grande responsabilidade de não exaurir os recursos naturais, permitindo que uma
mesma área possa ter produtiva para sempre. Não se admite mais técnicas que
explorem o solo até seu esgotamento e a mudança de local, como se praticou no
passado. E, ainda, tem o desafio de aumentar a produção na mesma área. Isto é
sustentabilidade. Para atingir esta situação, é necessária tecnologia. As
técnicas vêm sendo desenvolvidas nas universidades e instituições de pesquisa.
Não é possível importar esta tecnologia de países mais avançados, pois a
maioria pratica agricultura temperada. Temos que desenvolver uma agricultura
tropical, com a competência de nossos técnicos. E esta tecnologia tem que
chegar até os produtores rurais, independentemente do tamanho. Para isto, é
fundamental uma extensão rural eficiente.
A ANATER (Agência
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural) está sendo estruturada no
Brasil. É necessário que a política de extensão rural seja adequada,
recuperando as EMATERs e outras entidades de extensão, que já tiveram épocas
melhores. As universidades mais importantes do Brasil, que trabalham o agro,
devem redirecionar seu esforço, atualmente muito mais voltado à pesquisa,
valorizando a extensão. Embora seja muito importante continuar avançando em
pesquisa, já que ainda existem muitos gargalos na produção, é preciso que os
conhecimentos produzidos cheguem a todos os produtores, através de uma rede bem
preparada. O Projeto Rondon, que está sendo realizado em duas regiões do Mato
Grosso e Pará-Tocantins que precisam receber inovações, podem contribuir um
pouco para suprir essa necessidade.
Uma das funções do
Projeto Rondon é capacitar agentes multiplicadores pela ação de uma
força-tarefa representada por 600 voluntários (120 professores e 480
estudantes). No Pará-Tocantins os 300 voluntários (60 professores e 240
estudantes) são de 31 instituições de ensino superior, de 12 estados (SP, PR,
MG, RJ, RS, SC, DF, ES, GO, MT, BA e MA). Os planos de trabalho de quase todas
as equipes envolvem o agro, tanto temas de 'dentro da porteira' como os de
'antes da porteira' e 'depois da porteira'. São 15 municípios (11 no Pará e 04
no Tocantins) que estão recebendo, durante duas semanas, oficinas que permitam
avanços no enfrentamento dos principais problemas locais. Quase todas as
regiões atendidas têm atividade agrícola relevante. A expectativa é que, por
não se constituir mais em uma ação assistencial e sim inovadora, o Projeto
Rondon deixe um legado de transformações duradouras e sustentáveis, que tenham
continuidade, proporcionando, entre outros aspectos, geração de emprego e renda
na comunidade rural.
Além de tirar o estudante
da sala de aula, o Projeto Rondon pode contribuir para que os sistemas de
produção agrícolas não se esgotem, incluindo conceitos como rotação e sucessão
de culturas, manejo integrado de pragas, plantio direto, integração
lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta, diversificação da produção, boas
práticas agrícolas, redução do desperdício, cooperativismo, associativismo,
seguro e crédito rural etc. Merece reconhecimento o Ministério da Defesa, que
coordena o Projeto Rondon, com o apoio de diversos ministérios e do exército.
Importante que o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
tenha atuação destacada, para dar o devido destaque ao agro, responsável por
23% do PIB nacional, 33% dos empregos e 40% das exportações.
Por José Otavio Menten, Diretor Financeiro do
Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Coordenador Adjunto da
equipe ESALQ/USP do Projeto Rondon.
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