Sistemas de irrigação montados com material de baixo custo ajudam pequenos produtores do Semiárido a produzir o ano todo. Ações realizadas desde 2009 pela Embrapa em 12 assentamentos vêm mudando a realidade de famílias do sertão da Bahia. Cerca de 150 famílias participam diretamente das atividades e são beneficiadas aproximadamente 830 famílias de assentamentos. Em 2014, esse conjunto de iniciativas foi contemplado com o Prêmio Mandacaru II, promovido pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (Iabs), que tem como objetivo incentivar ações inovadoras para ampliar a prática da convivência sustentável com o Semiárido brasileiro.
A agricultura irrigada é a
principal opção para o desenvolvimento dos assentamentos nessa região, em
especial para as culturas de mandioca e banana. Mas os custos de instalação de
sistemas de irrigação para o produtor descapitalizado são relevantes, por isso
projetos vêm sendo implementados com o intuito de selecionar e adaptar
tecnologias de irrigação de baixo custo para essa faixa de agricultor familiar
que vive em localidades com índices de chuva inferiores a 450 mm por ano.
"Os produtores são colocados lá [nos assentamentos], ganham casa e ficam sem ter o que fazer fora da época das chuvas, que são escassas. Com os sistemas de irrigação, dá para plantar e colher durante todo o ano. E a proposta é instalar sistemas da forma mais barata possível", conta o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) Eugênio Coelho.
Sistemas de irrigação localizada
Diversos itens compõem um
sistema de irrigação, entre os quais, bomba, tubulações, conexões e emissores.
No geral, não são baratos, mas existem algumas adaptações que podem ser feitas,
principalmente nos emissores, para tornar o sistema acessível ao agricultor sem
recursos. Texto da cartilha "Sistemas e manejo de irrigação para
agricultura familiar", lançada pela Embrapa com recursos do Prêmio
Mandacaru II, informa que, quando tomados os devidos cuidados no uso da água,
os sistemas de irrigação montados com material de baixo custo apresentam os
mesmos efeitos dos convencionais sobre a produção de culturas de ciclo curto e
perenes em áreas de agricultura familiar.
No mínimo três tipos de sistemas de irrigação foram instalados em cada assentamento, localizados nos municípios baianos de Barra e Marcionílio Souza, e avaliações foram feitas, em conjunto com os agricultores, sobre o funcionamento de cada um deles. Inicialmente o trabalho focou nas tecnologias artesanais, utilizando emissores de água de microaspersão e gotejamento, sistemas de irrigação localizada em que a água é aplicada em pequenas vazões diretamente nas raízes das plantas. O primeiro utiliza microaspersores que jogam água em gotas como chuva, em uma pequena área em forma de círculo. O segundo, por gotejamento, é o que mais economiza água, utilizando pedaços de mangueira com pequenos furos e gotejador na ponta.
"Esses sistemas deram certo em um primeiro momento. Mas esses artesanais têm a desvantagem de que os pequenos furos dos emissores entopem facilmente com sujeiras presentes na água. É preciso que o agricultor percorra a área diariamente para verificar se há algum emissor entupido. A maioria não faz isso adequadamente, pois não quer perder muito tempo na irrigação", diz Coelho.
A equipe do projeto, então, procurou no mercado emissores baratos com orifícios maiores para proporcionar maior vazão. "Daí eles gostaram, pois eles querem ver água. Os novos emissores pulverizam por cima e têm vazão maior. Molham bastante em pouco tempo, só é preciso que o agricultor irrigue em menor tempo", relata.
Um dos sistemas mais bem aceitos, utilizado em mais da metade dos assentamentos, é o chamado bubbler, desenvolvido no Estado da Califórnia, Estados Unidos. Sua principal vantagem é não necessitar de pressão, como os dois sistemas citados anteriormente. Porém, em sua concepção original, apresenta uma técnica hidráulica complexa, segundo o pesquisador. Por isso, adaptações foram feitas em conjunto com os agricultores.
No mínimo três tipos de sistemas de irrigação foram instalados em cada assentamento, localizados nos municípios baianos de Barra e Marcionílio Souza, e avaliações foram feitas, em conjunto com os agricultores, sobre o funcionamento de cada um deles. Inicialmente o trabalho focou nas tecnologias artesanais, utilizando emissores de água de microaspersão e gotejamento, sistemas de irrigação localizada em que a água é aplicada em pequenas vazões diretamente nas raízes das plantas. O primeiro utiliza microaspersores que jogam água em gotas como chuva, em uma pequena área em forma de círculo. O segundo, por gotejamento, é o que mais economiza água, utilizando pedaços de mangueira com pequenos furos e gotejador na ponta.
"Esses sistemas deram certo em um primeiro momento. Mas esses artesanais têm a desvantagem de que os pequenos furos dos emissores entopem facilmente com sujeiras presentes na água. É preciso que o agricultor percorra a área diariamente para verificar se há algum emissor entupido. A maioria não faz isso adequadamente, pois não quer perder muito tempo na irrigação", diz Coelho.
A equipe do projeto, então, procurou no mercado emissores baratos com orifícios maiores para proporcionar maior vazão. "Daí eles gostaram, pois eles querem ver água. Os novos emissores pulverizam por cima e têm vazão maior. Molham bastante em pouco tempo, só é preciso que o agricultor irrigue em menor tempo", relata.
Um dos sistemas mais bem aceitos, utilizado em mais da metade dos assentamentos, é o chamado bubbler, desenvolvido no Estado da Califórnia, Estados Unidos. Sua principal vantagem é não necessitar de pressão, como os dois sistemas citados anteriormente. Porém, em sua concepção original, apresenta uma técnica hidráulica complexa, segundo o pesquisador. Por isso, adaptações foram feitas em conjunto com os agricultores.
"O bubbler consiste em um
tubo ou uma mangueira um pouco mais grossa e dessa mangueira saem mangueiras
finas e a água cai no pé da planta. Pela ideia original, tínhamos de pendurar
as mangueiras em estacas em determinada posição para que funcionassem direito.
Só que os produtores acabavam derrubando as estacas. Eles mesmos adaptaram o
sistema e nós ajudamos. Há uma mangueira principal e as mangueiras laterais.
Eles vão abrindo as de cima, fechando as de baixo, assim a água é distribuída
na parte inicial. Abrem depois a seguinte e fecham as demais. E assim até o fim
da mangueira," conta Coelho.
O agricultor César Augusto Gomes, do assentamento Caxá, em Marcionílio Souza, afirma que os dois sistemas implantados em sua área funcionam muito bem. "Tenho aqui o que a gente chama de ‘chuvinha' [microaspersão] e o ‘pinga-pinga' [gotejamento]. Funciona tudo direitinho, não gasta muita água, a bomba [a óleo] trabalha duas horas. Com água, tudo dá. Hoje já faço o dinheiro da feira e pronto. Venho pra casa e volto pra roça. Não tenho descanso. Mas não preciso mais sair daqui, graças a Deus", desabafa César, que há dois anos recebeu o projeto em sua área, localizada a 200 metros do rio Paraguaçu. Hoje planta banana e diversas hortaliças.
O agricultor César Augusto Gomes, do assentamento Caxá, em Marcionílio Souza, afirma que os dois sistemas implantados em sua área funcionam muito bem. "Tenho aqui o que a gente chama de ‘chuvinha' [microaspersão] e o ‘pinga-pinga' [gotejamento]. Funciona tudo direitinho, não gasta muita água, a bomba [a óleo] trabalha duas horas. Com água, tudo dá. Hoje já faço o dinheiro da feira e pronto. Venho pra casa e volto pra roça. Não tenho descanso. Mas não preciso mais sair daqui, graças a Deus", desabafa César, que há dois anos recebeu o projeto em sua área, localizada a 200 metros do rio Paraguaçu. Hoje planta banana e diversas hortaliças.
Sistemas de captação de água
da chuva
No assentamento Caxá, além das
três unidades de captação de água do rio Paraguaçu, que utilizam os sistemas de
irrigação de baixo custo descritos, existem 12 unidades de captação de água da
chuva. Nos dias de campo, os demais agricultores do assentamento, que não eram
ribeirinhos, ou seja, não poderiam fazer a irrigação utilizando a água do rio,
solicitaram que fosse desenvolvido algum sistema para eles. Também ansiavam
produzir e queriam ser beneficiados de alguma forma.
"Daí foi desenvolvido o projeto, aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e liderado pelo pesquisador Marcelo Romano, para instalação de unidades de captação de água da chuva," conta o analista Ildos Parizotto, integrante da equipe de irrigação da Embrapa Mandioca e Fruticultura que atua em todos esses projetos. Ele explica que a água vai para cisternas com capacidade de armazenamento de 52 mil litros. Da cisterna segue para uma caixa d'água. De lá, entra em cena um sistema por gotejamento, para irrigar o plantio, nesses casos, apenas de hortaliças, que são de ciclo curto. A equipe também é formada pelo analista Tibério Martins e os técnicos Tacisio de Andrade e Jorge Vieira do mesmo centro de pesquisa da Embrapa.
Essas unidades não contam com água permanente, como as demais à beira de rio. "Dependem da água da chuva. Mas conseguir produzir durante um período já é uma grande conquista", argumenta Parizotto. A experiência do agricultor Pedro França exemplifica a fala do analista. No Caxá, desde que o assentamento foi implantado, há 32 anos, ele afirma que o projeto veio trazer tranquilidade ao seu "corpo cansado", já com 72 anos. Pedro é um dos contemplados com o sistema de irrigação por captação de água da chuva tipo "enxurrada", pois a água escorre para a cisterna que fica em um plano mais baixo do terreno. "O projeto está fazendo um ano aqui. A cisterna foi muito boa pra gente, porque era mais difícil buscar água. Chegava aqui de noite trabalhando por fora e ia lá longe pegar água, pra beber e tudo. Agora a gente não se bate pela água. Na primeira chuva, em outubro, encheu. Estou com água o tempo todo", comemora. Em sua horta, Pedro planta diversos legumes e verduras, além de plantas medicinais. Tudo vai para a subsistência da família. "E dou para os vizinhos também, porque sozinho a gente não vence."
Os projetos"Daí foi desenvolvido o projeto, aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e liderado pelo pesquisador Marcelo Romano, para instalação de unidades de captação de água da chuva," conta o analista Ildos Parizotto, integrante da equipe de irrigação da Embrapa Mandioca e Fruticultura que atua em todos esses projetos. Ele explica que a água vai para cisternas com capacidade de armazenamento de 52 mil litros. Da cisterna segue para uma caixa d'água. De lá, entra em cena um sistema por gotejamento, para irrigar o plantio, nesses casos, apenas de hortaliças, que são de ciclo curto. A equipe também é formada pelo analista Tibério Martins e os técnicos Tacisio de Andrade e Jorge Vieira do mesmo centro de pesquisa da Embrapa.
Essas unidades não contam com água permanente, como as demais à beira de rio. "Dependem da água da chuva. Mas conseguir produzir durante um período já é uma grande conquista", argumenta Parizotto. A experiência do agricultor Pedro França exemplifica a fala do analista. No Caxá, desde que o assentamento foi implantado, há 32 anos, ele afirma que o projeto veio trazer tranquilidade ao seu "corpo cansado", já com 72 anos. Pedro é um dos contemplados com o sistema de irrigação por captação de água da chuva tipo "enxurrada", pois a água escorre para a cisterna que fica em um plano mais baixo do terreno. "O projeto está fazendo um ano aqui. A cisterna foi muito boa pra gente, porque era mais difícil buscar água. Chegava aqui de noite trabalhando por fora e ia lá longe pegar água, pra beber e tudo. Agora a gente não se bate pela água. Na primeira chuva, em outubro, encheu. Estou com água o tempo todo", comemora. Em sua horta, Pedro planta diversos legumes e verduras, além de plantas medicinais. Tudo vai para a subsistência da família. "E dou para os vizinhos também, porque sozinho a gente não vence."
Esses projetos — dois com
recursos da Embrapa, um com financiamento da Fapesb e outro custeado pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) —¬ já
finalizaram e contaram também com a parceria de técnicos da Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola (EBDA). Há ainda um projeto da Fapesb em andamento.
"Quase todos os assentamentos daquelas regiões já têm uma bomba e um
sistema de irrigação. Agora eles devem seguir em frente. A ideia é levar essa
ação para outras comunidades. Mas fazemos um monitoramento. Mantemos contato
por conta de outros projetos. Por exemplo, em Santo Expedito [Barra], estamos
com ação de um projeto de acerola com recursos da Fapesb", acrescenta
Coelho. Nesse assentamento citado pelo pesquisador, os produtores criaram até o
Dia da Água, 15 de dezembro, que comemora o dia em que esse recurso chegou lá
por meio do projeto.
A estrutura de irrigação dos
assentamentos foi adquirida e implantada pelos projetos. Os últimos investimentos
foram feitos com recursos do Prêmio Mandacaru II: a instalação de quatro
unidades demonstrativas em assentamentos de Barra (São Francisco, Sítio Novo,
Pau D'Arco e Piri-Piri), de duas unidades de captação de água da chuva no
assentamento Caxá, em Marcionílio Souza, além de adequações em sistemas já
instalados nos assentamentos Santo Expedito, Antonio Conselheiro e Angico
(Barra). Somam-se a isso a aplicação de planejamento estratégico participativo
para agricultores dos assentamentos de Barra e as diversas ações de
capacitação, por meio de cursos, dias de campo e palestras.
Por Alessandra Vale
Esse modelo bem que poderia ser implantado pelo setor agropecuário do Rio Grande do Norte, exercendo a criatividade.
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