A agricultura e a
agroindústria formam um dos segmentos mais complexos e dinâmicos da economia
brasileira. A recente crise mundial, e principalmente a brasileira, evidenciam
a importância do agronegócio na sustentabilidade e estabilidade da nossa
economia. A tecnologia na agricultura mundial teve
grande desenvolvimento com a contribuição de Justus von Liebig que, em 1840,
publicou o livro 'A química agrícola e sua aplicação na agricultura e
fisiologia', merecendo destaque o alerta: 'Eu sei muito bem que a maioria dos
agricultores acredita que sua maneira de fazer é a melhor e que suas terras
jamais deixarão de dar frutos. É esta doce ilusão que escondeu das populações a
relação que existe entre a fertilidade do solo e seu futuro e que fez nascer a
indiferença e a incúria que demonstram a esse respeito. Tem sido assim entre todos os povos que foram
instrumentos de sua própria ruina, e não há sabedoria política que possa
proteger os estados europeus de um destino semelhante, se os governos e os
povos fecharem seus olhos para os sintomas de empobrecimento dos campos, e se
continuarem surdos aos avisos da ciência e da história', (Liebig, 1862).
O ensino e a pesquisa agrícola no Brasil
tiveram início com a inauguração da Escola Imperial de Agronomia da Bahia em
1877 e da Estação Agronômica de Campinas em 1887 pelo Imperador D. Pedro II,
instituições essas pioneiras em ensino e pesquisa e ainda jovens aos 138 e 128
anos, respectivamente. O Brasil, pela sua extensão territorial,
disponibilidade de água, biomas diversos e condições climáticas favoráveis para
a produção agrícola com grande diversidade de culturas, tem merecido atenção
internacional, tornando-se referência na geopolítica da produção agrícola
mundial. Em 2006, Norman Borlaug, Nobel da Paz, o pai
da Revolução Verde, em uma de suas visitas ao Brasil, ao ser perguntado sobre
como via o futuro da produção agrícola no Brasil respondeu que não se tem como
competir em produção agrícola com um país com a extensão territorial do Brasil
que tem água e sol todos os dias, condições estas indispensáveis para o
processo fotossintético e produção de alimentos.
Hoje, a sustentabilidade da produção agrícola
e a adequação ambiental são indissociáveis.
Grandes avanços estão ocorrendo na agropecuária brasileira e para
continuar crescendo e firmando-se nas posições de liderança da produção, o
Brasil precisa também posicionar-se na liderança da implantação de ações de
sustentabilidade. A adoção de tecnologia
na utilização dos solos sob cerrados possibilitou grande expansão da área
agrícola e substancial aumento da produção, bem como de reconhecimento
internacional. Em 2006, Alisson Paulinelli,
Edson Lobato e Andrew Colin McClung (americano que foi pesquisador do
IBEC-Research em Matão, SP) foram contemplados com o Prêmio Mundial da
Alimentação (World Food Prize), pelas ações pioneiras em ciência do solo e
políticas de implementação na abertura de áreas de cerrados no Brasil para a
agricultura e produção de alimentos.
Esse prêmio foi criado em 1986 pelo laureado com o Nobel da Paz, Norman
Ernest Borlaug.
Em levantamento recente
realizado e divulgado pela Agroconsult, pela primeira vez a safra brasileira de
grãos superará a marca de 200 milhões de toneladas, e o plantel de gado já
supera 200 milhões de cabeças, o que levou André Pessoa, coordenador do Rally
da Safra, a fazer a seguinte afirmação: 'o Brasil é um dos poucos países do
mundo que produz uma tonelada de grãos por habitante e tem também uma cabeça de
gado por habitante'. Parece pouco, mas em um país em que a população rural é de
apenas 15%, e apenas o PIB do agronegócio tem sido positivo nos últimos anos, é
uma demonstração de muita tecnologia, trabalho e eficiência. Outro fator de crucial importância na
sustentabilidade da produção agrícola brasileira foi a adoção e implantação do
sistema plantio direto no Brasil, tecnologia que revolucionou a agricultura
brasileira e que começou no Paraná e teve como protagonistas Herbert Bartz,
Manoel Henrique Pereira e Franke Dijkstra.
Hoje mais de 30 milhões de hectares no Brasil são cultivados no sistema
plantio direto, com contínuo crescimento e consolidado graças ao grande
desenvolvimento de pesquisas na área.
Não podemos esquecer jamais
de que nossa sustentabilidade depende do sol, da água e do solo. Cuidando
adequadamente de nossos recursos naturais poderemos continuar dizendo que: o
solo é a nossa pátria e cultivá-lo e conservá-lo garantem a sustentabilidade e
nossa vida. Cabe aos profissionais da área agronômica a geração de sólida
tecnologia para a promoção de uma agricultura progressista, econômica e
sustentável, em benefício das gerações futuras. A ONU, em 1987, definiu no
Relatório Brundtland: 'desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações
satisfazerem as suas próprias necessidades'. Liebig, 1862, disse: A
sustentabilidade do agroecossistema depende da habilidade do agricultor em
manter a produtividade do solo. Mencionando
Paulinelli (2015), a agricultura e a pesquisa têm que avançar.
*Antonio Roque Dechen,
Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS),
Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, Presidente
da Fundação Agrisus e Membro do Conselho do
do Agronegócio
(COSAG-FIESP).
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