quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Carnaúba: cera e pó cerífero

A cadeia produtiva brasileira da carnaúba está basicamente concentrada nos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. A atividade extrativista da carnaúba continua com características primárias em seu processo produtivo. O setor que, durante a década de 70, teve o auge da produção, permanece sendo explorado por agricultores rurais (arrendatários de áreas de carnaubais) de baixa renda, com reduzidos investimentos em evolução tecnológica, impedindo assim, o contínuo aumento da produção de pó cerífero e da cera. Além disso, há anos que grande parte das áreas dos carnaubais vem sendo substituída pelas atividades da cerâmica, fruticultura, carcinicultura, dentre outras. Portanto, a exploração continua sendo na base do extrativismo e sem perspectivas de aumento de áreas com carnaubais.

Por conta disso, nos últimos 10 (dez) anos, a produção nacional de cera de carnaúba não teve alterações significativas, pelo contrário, a safra vem sendo menor a cada ano. A maior participação em termos de quantidades produzidas e do estado do Ceará, que responde por mais de 50% do total. A demanda externa absorve mais de 80% da safra. O restante vai para o consumo interno.

O estado do Ceará se destaca como o maior produtor e exportador brasileiro de cera de carnaúba. Isto é devido à concentração de um maior número de indústrias de processamento e tradicionais empresas exportadoras, e ainda, em face das favoráveis condições portuárias, já que a maioria das exportações do produto originário de outros estados sai de seus portos, o que contabiliza grandes números para o Ceará.

O estado do Piauí é o maior produtor nacional de pó cerífero. Entretanto, a maior parte da produção dessa matéria-prima é escoada para o estado do Ceará, onde é feito o beneficiamento da cera. O Rio Grande do Norte fica como intermediário, cuja produção de pó e cera de carnaúba tem sua importância econômica, já que 85% da sua produção (cera) vão para o mercado externo.

O pó cerífero, principal matéria-prima para o beneficiamento da cera, quando é extraído da parte central das folhas novas da carnaubeira, é denominado de “pó de olho” ou pó tipo A, que produz a cera clara, de cor amarelo-ouro, com valores comerciais elevados. Já o “pó de palha” ou pó tipo B é extraído de toda a extensão das folhas, produzindo a cera gorda, com coloração amarelo-alaranjada ou preta.

As folhas (fibras ou palhas) da carnaúba, cujo corte é realizado durante o período da safra, que vai de julho até dezembro de cada ano, produzem o pó cerífero que, industrializado, é transformado em cera, com inúmeras aplicações econômicas. Além disso, a fibra (palha) vem se constituindo como uma importante matéria-prima para a consolidação do mercado de produtos artesanais e outros fins, inclusive com eficiência na confecção de material isolante utilizado pela Petrobras no revestimento dos dutos condutores de vapor, protegendo-os dos agentes naturais (sol, chuva e vento).

Já a cera de carnaúba participa na formulação dos diversos produtos feitos pelas indústrias farmacêuticas, cosméticas, fonográficas, de informática e na fabricação de produtos de limpeza, entre outros empregos industriais.

Embora a cadeia econômica da produção de cera de carnaúba venha se mantendo em processo de decadência desde a década de 80, acentuando-se a partir de 1995, justamente quando o produto alcançou maiores preços, a atividade oriunda da extração da carnaúba ainda continua tendo relevante importância social para a economia dos estados produtores, gerando a ocupação, em toda cadeia produtiva para mais de 60.000 famílias de baixa renda.

Não obstante, permanece delicada a situação da cadeia produtiva da carnaúba, quando são identificadas inúmeras limitações de oportunidades para o seu desenvolvimento, dentre elas, destacam-se a necessidade de fixar áreas de reservas para evitar que os carnaubais sejam dizimados, sobretudo nas regiões dos vales onde há maior concentração da planta; tornar ativa a política de capacitação do produtor rural e; intensificar o movimento de integração entre os elos da cadeia produtiva.


A atividade de colheita - via corte da safra de carnaúba de 2014 começa a partir deste mês e vai se estender até dezembro. Não são animadoras as perspectivas do setor quanto ao volume de produção para esta safra. Essa desconfiança é por conta das sucessivas secas verificadas nos principais estados produtores do Nordeste. A produção desta safra deverá ser 30% menor que a do ano de 2013 - esta também teve perdas significativas. Além disso, o setor está encontrando dificuldades para encontrar mão de obra disponível para o corte da palha e demais atividades. O preço da mão de obra está excessivamente alto, onerando cada vez mais o custo de produção da cera de carnaúba.

A cadeia produtiva da carnaúba, sobretudo a do estado do Rio Grande do Norte, precisa se organizar para poder acessar os instrumentos oficiais de apoio à produção, custeio e comercialização dos produtos derivados da carnaúba.





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