segunda-feira, 16 de novembro de 2015

EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES DO RIO GRANDE DO NORTE: O RETRATO DE UMA ECONOMIA SUBDESENVOLVIDA

 
  
"O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) divulgou no início do corrente mês os dados preliminares da balança comercial do Rio Grande do Norte (RN) referentes a outubro, com destaque para as exportações que cresceram 73% em relação a igual período do ano passado. Nos primeiros dez meses de 2015 (janeiro/outubro), de forma agregada, o estado já exportou um valor correspondente a US$ 258,5 milhões, o que representa um acréscimo de 33% da cifra comparativamente a 2014, quando as vendas externas somaram US$ 193,7 milhões.  A publicação dos referidos números causou euforia no âmbito da imprensa estadual e de alguns setores do governo ligados à área econômica. Argumentou-se que o RN estaria superando a crise e ingressando em uma nova fase de crescimento. Entretanto, o bom desempenho das vendas externas registrado até agora, motivado em grande medida pela desvalorização recente do Real, não é motivo para nenhuma festa antecipada. Por conta disso, vale a pena verificar com mais atenção os indicadores publicados para evitar conclusões apressadas e até mesmo equivocadas. 
 
É importante anotar, em princípio, que o valor das exportações potiguares tem apresentado grande dificuldade de expansão no período recente, ficando sempre abaixo do montante registrado em 2008, quando a crise internacional abalou fortemente os principais mercados compradores do mundo. Além desse aspecto, a balança comercial norte-riograndense tem registrado déficits, ou seja, exportações menores que as importações, em vários anos da série analisada (2010, 2013 e 2014).  Por outro lado, não se deve esquecer que o RN é um estado primário-exportador que ainda ocupa uma posição marginal no comércio internacional.
 
Historicamente, exportamos produtos agrícolas e minerais semimanufaturados e importamos bens intermediários e de capital de maior valor agregado. Em 2014, por exemplo, nada menos do que 56% de nossas vendas externas se resumiram a frutas frescas e castanhas de caju. Outra parte significativa adveio da comercialização de óleo bruto, sal marinho, pescado, produtos têxteis e minérios. Já as importações, que correspondem ao somatório das nossas compras no exterior, se concentraram, como geralmente ocorre, em produtos manufaturados, máquinas e equipamentos. 
 
Isso significa que muito mais do que mostrar uma suposta vantagem comparativa do RN a ser comemorada, os dados do MDIC revelam uma base produtiva exportadora precária e uma expressiva dependência tecnológica, características essenciais de economias subdesenvolvidas, tal qual consta nas páginas de qualquer bom Manual de Ensino dedicado à matéria. E o pior: a situação tende a se agravar, uma vez que a importação de produtos manufaturados cresce anualmente, ocupando o espaço deixado pela indústria local. Assim, com a nossa pauta de exportação atual, assentada em recursos naturais de baixo valor agregado, é difícil avançar e superar o atraso que caracteriza a economia estadual."  
 
Por: Joacir Rufino de Aquino (Economista, pesquisador e professor da UERN)  e 
José Aldemir Freire (Economista e chefe da Unidade Estadual do IBGE no RN)                                             
 
 

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