O blog reproduz o artigo do Dr. Roberto
Rodrigues* e Pedro Luiz Passos, sob o título: “Agronegócio e meio ambiente”. Cedemos espaço para esse oportuno
assunto por entender que o crescimento das safras agrícolas do país, por meio
do agronegócio, pode muito bem conviver com a legislação ambiental, de modo
sustentável.
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O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é o
principal ponto positivo do novo código Florestal, capaz de promover a
regularização de 5,2 milhões de imóveis Rurais e o PSA cria oportunidades e
pode gerar renda para os proprietários Rurais.
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O empenho
do agronegócio brasileiro em fortalecer o setor e torná-lo mais competitivo
depende da construção de uma estratégia que contenha uma agenda positiva e
sustentável, que integre a expansão da produção com a conservação ambiental e
a responsabilidade social. A polarização das discussões em tomo do novo
Código Florestal, que já completou dois anos, resultou na edição de uma
legislação que desagradou à maioria dos envolvidos, mas apresentou
instrumentos positivos que podem de fato trazer avanços significativos para a
sociedade.
O Cadastro
Ambiental Rural (CAR) é o principal ponto positivo do novo código, capaz de
promover a regularização de 5,2 milhões de imóveis Rurais e dar início aos
processos de recuperação ambiental rural previsto na nova legislação. Com o
decreto da Presidência da República que regulamenta o Código Florestal,
publicado em 5 de maio, proprietários Rurais têm o prazo de dois anos, a
partir dessa data, para cadastrar as terras no Sistema Nacional de Cadastro
Ambiental Rural, especificando as áreas destinadas tanto à produção como à
conservação ambiental.
A falta de
regularização ambiental pode levar-nos a perder competitividade em mercados
e, pior, fará o País continuar convivendo com a ilegalidade e a insegurança
jurídica. Não há, por exemplo, como o setor produtivo garantir a origem dos
produtos do campo sem a regularização ambiental. Portanto, a regulamentação
da lei florestal brasileira e a implementação do CAR une o agronegócio,
proprietários Rurais, poder público e ambientalistas na construção de uma
agenda positiva sustentável e comum.
Assim como
o CAR, o projeto de lei que institui o pagamento por serviços ambientais
(PSA) no País é outro ponto de convergência e consenso entre ambientalistas,
ruralistas, comunidade cientifica, órgãos gestores de meio ambiente e
Agricultura. Infelizmente, está demorando muito para ser aprovado no
Congresso Nacional.
O PSA cria oportunidades e pode gerar renda para os proprietários Rurais, em razão do importante papel que cumprem em prol da sociedade na preservação da água e da biodiversidade, com a conservação das áreas de preservação permanente, das zonas de recarga de aquíferos e das reservas particulares do patrimônio natural. Assim, a manutenção de áreas preservadas, muitas vezes encarada como prejuízo, toma-se também uma atividade rentável. Fruto de inúmeras audiências e discussões públicas, o PSA é uma iniciativa bem-sucedida em diversos países. No Brasil temos pequenos exemplos de iniciativas regionais e de legislações estaduais e municipais, como fizeram os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro de forma pioneira, servindo de referência para avanços na agenda positiva sustentável. Destaque também para o município de Extrema (MG), que desenvolve um projeto de PSA que recompensa produtores Rurais pela proteção e restauração de áreas de mananciais estratégicas para o abastecimento hídrico de grandes centros urbanos - ali estão, por exemplo, nascentes de diversos riachos que alimentam o Rio Jaguari, pivô da recente disputa por água entre São Paulo e Rio.
Premiada
no Brasil e internacionalmente, a expectativa era de que a experiência de
Extrema se multiplicasse pelo País, mas ainda é pequena a quantidade de programas
que pagam ao Produtor rural pela prestação de serviços ambientais.
É preciso
avançar na legislação que estabelece mecanismos positivos e valorização para
quem preserva. Bons instrumentos como o PSA precisam sair das gavetas para
modernizar a legislação, com um marco regulatório que estimule práticas e
negócios sustentáveis. Chega de só castigar quem erra, é hora de premiar quem
faz certo.
Existe
grande divergência nos números sobre as áreas existentes para a expansão da
Agricultura - áreas improdutivas e degradadas em pastos e campos abandonados
- e sobre o que é protegido em unidades de conservação no País.
Mas em todos
os casos há consenso de que, com investimento tecnológico, ciência,
planejamento integrado, respeito à legislação e políticas públicas positivas
de incentivo a práticas sustentáveis, o Brasil pode avançar muito com o
crescimento das safras associadas à proteção da biodiversidade.
Com o desenvolvimento de novos processos e tecnologia é possível incorporar a sustentabilidade ao ambiente do agronegócio de forma estratégica, abrindo caminho para que se estabeleçam novos padrões de produção rural.
O poder
público tem papel preponderante na implementação de instrumentos de gestão,
proteção e regulação do acesso de setores produtivos aos recursos naturais
essenciais, como a água e a biodiversidade. Entretanto, só o conhecimento
profundo dos biomas garantirá a tomada de decisões cientificamente corretas e
socialmente justas sobre a forma de usar nosso vasto patrimônio natural.
Até o momento, apenas o bioma Mata Atlântica conta com a proteção de uma lei específica, que começa a sair do papel por meio de regulamentos e instrumentos como os Planos Municipais da Mata Atlântica, ainda de forma tímida e sem incentivos.
Temos
vários pactos globais lançados pela ONU para aperfeiçoar a responsabilidade
ambiental na produção e na cadeia alimentícia, para mitigar as mudanças do
clima, para enfrentamento da crise da água e da crescente demanda energética.
Mas para que possamos avançar concretamente e de forma positiva no País
precisamos fortalecer os pontos comuns da nossa agenda local.
A
implementação do CAR e a aprovação do PSA são os primeiros pontos desta
convocação que fazemos ao agronegócio e ao movimento ambientalista para
construir uma agenda positiva sustentável para o Brasil.
(*)
Engenheiro Agrônomo. Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV. Ex-ministro
da agricultura.
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Assuntos especiais ligados à agricultura brasileira, nordestina e norte-rio-grandense!
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Agronegócio e meio ambiente
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