sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Pesquisa agrícola

O blog cede espaço para a importante entrevista feita pela jornalista Juliana Gonçalves da Gazeta do Povo Online com o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, Maurício Lopes. 

“Garantir a segurança alimentar do país deixou de ser a preocupação de quem se dedica à pesquisa agropecuária há 40 anos. Agora, o grande desafio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é desenvolver sistemas que contornem as mudanças climáticas, as pragas que ainda assolam as lavouras e a necessidade de gerar alimentos com maior densidade nutricional e com novas funcionalidades. Esses e outros desafios estão sendo discutidos na 34ª Reunião de Pesquisa de Soja, evento técnico realizado pela Embrapa, que reúne mais de 450 pessoas em Londrina.

A jornalista enriquece a entrevista comentando ainda:

Para o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, o Brasil está preparado para enfrentar os novos desafios da agropecuária, graças à opção que fez 40 anos atrás, de desenvolver um modelo baseado em ciência. “Nós temos instituições de pesquisa, temos profissionais preparados e um conceito moderno de inovação para a agropecuária”, avaliou. Ele considera que o produtor rural também tem importante papel na manutenção da agropecuária brasileira. Responsável por aplicar a tecnologia desenvolvida pelas pesquisas, o homem do campo precisa buscar informações e uma interação cada vez mais ativa com as políticas públicas, defende. A seguir, confira os principais trechos da entrevista:

A seguir, confira os principais trechos da entrevista:

Quais são os desafios da pesquisa daqui por diante?

As tecnologias agropecuárias estão cada vez mais complexas e sofisticadas e vão exigir inovações gerenciais, de manejo. Nós, da pesquisa, estamos conscientes que temos que gerar inovações que permitam ao agricultor manejar as novas tecnologias da maneira mais segura, de maneira a levá-las a gerar os benefícios que elas prometem.

E os produtores estão prontos para lidar com essas tecnologias?

Dificilmente o pesquisador terá condições de levar o conhecimento e a tecnologia que ele gera ao produtor. Para ter uma ideia, a Embrapa tem 2,5 mil pesquisadores e, num cálculo superficial, o Brasil precisaria ter hoje no campo cerca de 60 mil profissionais de extensão, levando tecnologia para o produtor. Há uma carência muito grande de um sistema de transferência tecnológica que faça essa ponte entre a pesquisa e a realidade do produtor. Estamos tentando superar isso.

De que forma?

No ano passado, a Presidência da República mandou ao Congresso o projeto da Anater, a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. A ideia é que essa agência venha ocupar esse espaço e dar essa capilaridade de profissionais treinados e capacitados para fazer transferência tecnológica, para interagir com os produtores, canalizando o conhecimento gerado nos centros de pesquisas.

A Embrapa já teve um papel muito importante na produção de sementes no Brasil. Qual é o foco da pesquisa daqui para frente? 

A pesquisa pública teve papel fundamental num momento em que nós ainda não tínhamos um setor privado ativo nessa área. Naquele momento, cabia ao setor público ser o grande produtor de novas variedades para o mercado. Chegamos a ter quase 70% do mercado de cultivares de soja, quase 30% do mercado de cultivares de milho. Hoje, não faz mais sentido buscarmos participação tão significativa no mercado, quando temos o setor privado investindo em pesquisa. Temos que trabalhar muito mais uma sinergia, uma interação e complementação de esforços entre o setor público e o privado. Vamos manter nossa presença no mercado de cultivares, com grande ênfase para os programas de melhoramento genético, mas não temos a ilusão de voltar a ter aquela presença que tínhamos nos anos 70 e 80.

As questões ambientais têm ganhado cada vez mais importância no Brasil. Como a Embrapa está tratando esse assunto?

De forma muito séria. Definitivamente, a sustentabilidade está na agenda da sociedade e da pesquisa. Temos uma preocupação muito grande em desenvolver sistemas produtivos que estejam alinhados com o conceito de sustentabilidade nas suas três dimensões: econômica, ambiental e social. Por exemplo, nesse momento, estamos fazendo um grande esforço no desenvolvimento dos chamados sistemas integrado: a integração lavoura-pecuária, lavoura-pecuária-floresta.
Qual a importância desses sistemas para o futuro?

A nova lei ambiental, o Código Florestal, estabelece que a nossa agricultura vai ter que crescer mais na vertical do que na horizontal, ou seja, menos em ampliação de área e mais em eficiência, em produtividade, em sustentabilidade. Nós temos áreas enormes no Brasil com pastagens degradadas que podem entrar no sistema de recuperação com a ciclagem entre lavoura e pecuária e até lavoura, pecuária e floresta. Esta é uma maneira de trazer mais sustentabilidade para os sistemas produtivos, porque vamos ter uma diversidade maior de espécies. É também uma maneira de lidar com o desafio da nova economia do carbono, porque esses sistemas permitem que, ao invés de emitir gases de efeito estufa, se acumule o carbono e esses gases no solo. “A maior diversidade de sistemas no ambiente também nos ajuda a lidar com pressões de novas pragas e doenças.”



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