quinta-feira, 11 de junho de 2015

Postamos o editorial do economista Paulo Morceli veiculado pela Revista Indicadores da Agropecuária - editada pela Conab, edição de maio/2015, dada a sua importância para a agricultura brasileira.
   
Finalmente, a marca das 200,0 milhões de toneladas de grãos é atingida.

Hoje, dia 17/05/2015, ao assistir o Globo Rural, ouvi a repórter Helen Martins fazer uma afirmativa muito importante para o meio rural e para toda a sociedade brasileira. Aqui, uma pausa para me penitenciar por não ter anotado os seus relevantes dizeres. Todavia, recordo de ter ressaltado que, se os brasileiros estão preocupados com as dificuldades que o nosso País vem passando, imaginem o que seria sem a grandeza da produção agrícola desta safra. Grande verdade Helen, porque, além de permitir que os envolvidos nas cadeias produtivas agrícolas mantenham seus empregos e obtenham renda, ainda geram alimentos e demais produtos para toda a sociedade, diminuindo os custos dos habitantes urbanos e contribuindo, sobremaneira, para amenizar os transtornos atuais.

Nos idos dos anos 1980, época das grandes crises econômicas que o País atravessava, o grande desafio era o de atingir as 100,0 milhões de toneladas, processo concretizado, somente, na safra 2000/01, ou seja, demorou algo como 500 anos. Nesta safra, pode-se comemorar, segundo dados divulgados pela Conab, em 12 de maio último, que aquela meta dobrou em apenas 15 anos. De acordo com os dados a partir da safra 1976/77, até a estimativa de maio de 2015 para a safra 2014/15, a produção cresceu 330,79%, passando de 46,9 para 202,2 milhões de toneladas e com aumento de “apenas” 53,32% em área cultivada, de 37,3 para 57,2 milhões de hectares, sendo possível tal progressão devido o incremento de 181,03% na produtividade, que passou da média nacional de 1.258 para 3.535 kg/há.

Outra questão importante: os 57,2 milhões de hectares cultivados nesta safra não significam áreas ocupadas em sua extensão, pois, o Brasil tem sua produção agrícola sobreposta: a segunda e terceira safras de feijão, a segunda safra de milho e a safra dos cereais de inverno (aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale). Na presente safra, 26,22% da área cultivada, ou 15,0 milhões de ha são de sucessão de uso.

Mas a quem podemos atribuir tais feitos? Certamente a muitas pessoas e instituições. Em primeiro lugar, aos produtores rurais, pois, se não fosse a garra
e perseverança deles que deixaram o conforto de suas origens e se aventuraram em regiões inóspitas, não estaríamos vendo essas realizações. Aos pioneiros, tanto aqueles que foram desbravar novas áreas nas fronteiras agrícolas, bem como aqueles que buscaram novas culturas, novas variedades, novas técnicas, aplicando-as em áreas já em exploração. Destaque à capacidade de investimento e de gestão dos produtores rurais brasileiros, pois as fazendas são verdadeiras “fábricas” de produtos agrícolas, utilizando os mais eficazes métodos de gestão operacional, financeiro e comercial. Não esquecendo, obviamente, dos agricultores familiares que, se não são grandes em termos de produção em escala, são “gigantes” na diversidade e qualidade de seus produtos, fornecendo grande parte dos alimentos consumidos no Brasil.

O desempenho no que tange à produtividade e ao uso das safras sucessoras, dentre outras técnicas, só foi possível pela incorporação de inovações patrocinadas pela pesquisa quer pública quer privada. No uso de sementes fez, por exemplo, a produção de milho sair das 1.632 para 5.168 kg/ha, a de arroz de 1.501 para 5.320 kg/ ha, como média nacional, e assim por diante. de manejo do solo, caso do plantio direto na palha, grande responsável pela segunda safra, e da integração lavoura, pecuária e floresta, pois, ambas, além de melhorarem a produtividade, contribuíram, substancialmente, com o meio ambiente. O desenvolvimento e aperfeiçoamento de novas máquinas permitiram a ampliação das áreas cultivadas. Na química também tivemos grandes avanços com o desenvolvimento de moléculas mais eficazes contra pragas e doenças e menos agressivas ao homem e ao meio ambiente. Destaque às técnicas de produção agroecológica e sustentável pela grande contribuição no fornecimento de alimentos sem o uso de agroquímicos, dando mais qualidade ao meio ambiente e à alimentação humana.

A exigência de produtos de melhor qualidade, por parte dos consumidores, fez com que a pesquisa e os produtores se preocupassem em buscar alternativas. Podemos incluir muitos produtos que foram substituídos e outros que tiveram sua qualidade melhorada, a exemplo dos óleos, do arroz, do feijão, no algodão, etc. Também deve ser ressaltado os cuidados na industrialização, acondicionamento e conservação, já que o consumidor se tornou mais exigente.
A participação do Governo com suas políticas e apoio, com maiores ou menores
efetividades em função das crises econômicas ou orientações políticas, mas sempre priorizando o setor agropecuário, por meio de políticas que buscassem fornecer o apoio necessário para o crescimento e desenvolvimento do setor. A Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM criada em 1946 continua em uso até os dias de hoje. Há de se falar, ainda, do credito rural e dos programas de apoio ao setor ou atividades específicas que foram e são de grande importância como indutores da sua modernização.

Com o crescimento da agricultura todos os brasileiros ganharam, pois a população é melhor alimentada e o Brasil se tornou um importante supridor de alimentos ao mundo. Até poucos anos o Brasil era importador líquido, por exemplo, de arroz e milho e, segundo dados divulgados pelo USDA no dia 12/05/2015, na safra 2015/16, o sexto maior exportador de arroz com dois milhões de toneladas e o segundo de milho com vinte e quatro milhões, destacando a soja que será o maior exportador de grãos com embarque de 49,7 milhões de toneladas. Graças à produção de milho e soja foi possível desenvolver uma avicultura e suinocultura das mais modernas do mundo, sendo o Brasil há alguns anos, o maior exportador mundial de carne de frangos, além, óbvio, de prover o país, com aumento significativo no consumo interno dessas carnes.

É claro que nem tudo anda às mil maravilhas! A questão do desmatamento, a correta aplicação do código florestal, a preservação das reservas legais, o uso da água de forma racional, são questões que estão na pauta do dia. Também é intenso o debate sobre o uso de transgênicos e de determinados agroquímicos. Essas questões terão que ser tratadas e equacionadas para que o Brasil continue crescendo na produção de grãos. Estima-se que em 2050 a população mundial atingirá a cifra de 9,3 bilhões de habitantes e que demandará 50% mais de alimentos, se comparados a hoje. Poucos são os países que ainda têm áreas e condições climáticas para aumentar sua produção e o Brasil é o principal deles. Neste sentido, é necessário que essas questões sejam revolvidas para que se possa continuar desempenhando seu crucial papel na sociedade mundial como um dos mais importantes produtores de alimentos do mundo.
Paulo Morceli
Economista MsC – Técnico de Planejamento da
Gerência de Oleaginosas e Produtos Pecuários da Conab
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