Com a população mundial se aproximando rapidamente dos 9 bilhões de
habitantes e considerando que a alimentação é uma necessidade vital, uma
questão que não preocupa o agronegócio é a demanda, ou seja, a existência de
mercado para seus produtos. Ademais, apesar do governo, o setor protagonizou
nos últimos anos, por méritos próprios, notável processo de incorporação de
tecnologia e de elevação da produtividade, o que lhe assegura competitividade
nos grandes mercados mundiais. Enfim, da porteira para dentro, o agronegócio
brasileiro vai muito bem - é eficiente e capaz de superar até mesmo a
concorrência subsidiada nos Estados Unidos e na Europa.
Da porteira de suas propriedades para fora, quando passa a depender de
ações do governo, o produtor se torna vítima do descaso, da omissão oficial e
também de políticas públicas equivocadas. Os exemplos são muitos: o
sucateamento da infraestrutura de transportes e de armazenagem da safra; a
política de comércio exterior consubstanciada na opção por países e blocos que
pouco acrescentam ao Brasil ao mesmo tempo em que subestima e ignora o Acordo
do Pacífico Sul, onde estão as grandes e reais oportunidades, inclusive com a
China; a falta de crédito; a fragilidade do sistema de seguro rural; a
inexistência de um sistema eficaz de assistência e extensão rural e, no âmbito
do estado, uma legislação ambiental que afugenta potenciais investidores.
Na logística, o produtor está sufocado por custos que chegam a ser quatro
vezes maiores que em países vizinhos, como na Argentina e nos Estados Unidos,
por exemplo. Estatísticas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA) mostram que, na média, o produtor brasileiro de soja perde US$ 92 por
tonelada no levar até os portos. Indicando que a precariedade aumenta a cada
ano, esse prejuízo cresceu 228% na última década, quando era de US$ 28 por
tonelada. É a consequência da falta de um sistema de logística à altura da
capacidade de produção do agronegócio brasileiro.
Por carência de hidrovias, ferrovias e portos, produtores do
Centro-Oeste, Nordeste e Norte do país - regiões onde existe um excedente de 64
milhões de toneladas para exportação - são obrigados a levar suas safras para
portos do Sul e do Sudeste, com perdas vultosas. Agravando esse cenário, a
insuficiência do sistema de armazenamento faz com que montanhas de toneladas de
grãos - soja e milho, principalmente - fiquem ao relento, com grandes
prejuízos.
Nesta virada do ano, com as projeções indicando que a economia brasileira
fechará 2015 com crescimento negativo muito perto dos 4% e inflação acima dos
10%, é hora de o governo entender que o agronegócio é um patrimônio nacional e
que é sua responsabilidade investir para preservá-lo considerando sua efetiva
contribuição à economia do país. O agronegócio é o setor que exige menos
investimentos e mais rapidamente responde aos estímulos - lança-se a semente na
terra e em quatro ou cinco meses ela se transforma em divisas para o país, além
de proporcionar empregos, desenvolvimento regional e segurança alimentar da
população, com sustentabilidade ambiental.
O agronegócio também representa a cadeia produtiva que mais impactos
favoráveis traz à economia - movimenta a indústria de insumos, adubos,
implementos, fertilizantes, defensivos e corretivos de solo, impulsiona os
segmentos industriais de processamento e beneficiamento da produção rural.
Trabalhemos, portanto, para assegurar ao setor - vital para gerar riqueza para
o país e empregos para os brasileiros - infraestrutura de qualidade, uma
eficiente política de comércio exterior, defesa sanitária e, em síntese,
segurança para plantar, colher e gerar desenvolvimento.
*Roberto Simões é Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do
Estado de Minas Gerais.
Fonte:
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
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