Para não derrapar no fraco desempenho da economia brasileira, a indústria de
  máquinas e implementos agrícolas pisa fundo nas estratégias de vendas. Como é
  consenso entre as fabricantes que o ano deve encerrar com redução entre 10% e
  15% no número de unidades comercializadas, as apostas são de crescimento em
  fatia de mercado, para não ficar no prejuízo e evitar a necessidade de novos
  cortes.  
   
  Para atingir essa meta e manter a roda dos negócios girando, as empresas
  lançam mão de recursos que garantam a preferência do cliente na hora da
  compra. Tem desde desconto até a possibilidade de pagamento com o que o
  agricultor colhe nas lavouras.  
   
  Tentando ganhar terreno no segmento de tratores de menor potência - os que
  têm entre 40 cv e 129 cv representam mais de 70% do mercado no país, a Case
  IH foi para a Agrishow com uma estratégia agressiva. Lançou uma campanha, que
  vai até o final de julho, de um combo com descontos de até R$ 10 mil, peças
  grátis nas duas primeiras revisões e a possibilidade de financiar pelo Mais
  Alimentos, parte das linhas do Programa Nacional de Financiamento da
  Agricultura Familiar (Pronaf), com taxa de juro de 2%, considerada negativa
  por ser menor do que a inflação.  
A promoção
  vale para quem comprar pela primeira vez equipamento de um dos oito modelos
  de duas linhas da marca, de 60 a 130 cv. E deve ajudar a multinacional na
  busca por maior participação de mercado nessa faixa de potência. Hoje tem
  5,3%, mas quer chegar a 10% - a meta é buscar de um a dois pontos percentuais
  em 2015.  
   
  Mercado gaúcho é estratégico 
O Rio
  Grande do Sul é considerado o melhor mercado para esse segmento.  
   
  - O objetivo é chegar naquele que é pequeno produtor, mas busca alta
  tecnologia, e o Rio Grande do Sul é feito de agricultores com esse perfil -
  justifica Christian Gonzalez, diretor de marketing da Case IH para a América
  Latina. 
Com
  propriedade de 130 hectares dedicada ao cultivo de milho para silagem em Ubá
  (MG), Francisco Guimarães Teixeira fechou negócio na Agrishow atraído pela
  campanha. Investiu R$ 155 mil para substituir um trator de 105 cv por um de
  110 cv, para acompanhar o ritmo da colheitadeira:  
   
  - Hoje, é melhor adquirir uma máquina boa, para o serviço render mais.  
   
  Com o reajuste de juro já feito - de 4,5% para 7,5%, nas linhas do Moderfrota
  - e as indefinições quanto a taxas e percentuais de financiamento para o
  segundo semestre, quando estará em vigor o novo Plano Safra, outro mecanismo
  de venda com espaço para crescer é o consórcio.  
A Massey
  Feguson, que detém a maior fatia da venda de tratores de rodas no primeiro
  trimestre de 2015, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
  Automotores (Anfavea), tem cerca de 20% dos negócios feitos na modalidade. E
  aposta em avanço.  
   
  - No momento que sentimos a retração, pisamos fundo no consórcio, e isso tem
  tido reflexo - garante Leonel Oliveira, gerente de vendas da Massey Ferguson. 
De novo, o
  gaúcho é apontado como cliente de grande potencial, por gostar de comprar
  pela modalidade, popular entre pecuaristas. Oliveira avalia que é uma compra
  para quem programa a frota. Ou seja, não tem pressa em fazer o investimento.  
- Na
  crise, o consórcio sobe sempre - afirma Paulo Beraldi, diretor comercial da
  Valtra, que registrou alta de 28% no segmento nos três primeiros meses de
  2015. 
  
   
  Sacas que valem novos equipamentos na lavoura  
   
  Não é de hoje que o produtor calcula os investimentos com base na quantidade
  de sacas produzidas. A diferença é que agora a prática de usar o grão como
  moeda de pagamento, comum na relação com cooperativas e concessionárias,
  chega à indústria e começa a popularizar no Brasil a palavra barter, que, em
  inglês, quer dizer trocar um produto por outro.  
   
  A New Holland fechou contrato com a Cargill e a Unibarter, de Ribeirão Preto
  (SP), para operacionalizar o mecanismo de venda.  
   
  - Em 2014 já se percebia dificuldades para 2015. Começamos a construir a
  parceria e, em fevereiro, passamos a oferecer a opção - explica Jefferson
  Kohler, gerente de marketing da New Holland.  
   
  A ferramenta é válida para todo o Brasil, mas tem foco nas regiões de atuação
  da Cargill - São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Bahia, que fica encarregada dos
  contratos. Até o momento, existem, segundo Kohler, mais de 80 negócios já em
  análise. Uma das opções tem sido travar o valor a ser pago em produto como
  entrada - em média 10%, financiando o restante.  
   
  Ciente da proximidade entre cooperativas e agricultores, a New Holland estuda
  pelo menos duas novas parcerias para tocar esse modelo de negócio: uma no Rio
  Grande do Sul e outra no Paraná.  
   
  A sul-coreana LS Tractor, que oferece tratores na faixa entre 40 a 105
  cavalos de potência, também aderiu ao barter. Em 2015, a empresa pretende
  seguir com a estratégia de trocar sacas de café pelo equipamento. A
  modalidade já representa, de acordo com Ronaldo Pereira, gerente nacional de
  vendas, 2% das vendas no Brasil e 20% dos negócios das concessionárias em
  Minas Gerais.  
   
  Indefinição sobre crédito e câmbio puxa freio de mão  
  
   
  Preocupado com os rumos da economia, Costa apostou no consórcio na hora de
  fazer compras na Agrishow (Foto Renan Costantin, Divulgação)  
   
  Mesmo com a intensa troca da frota nos últimos anos, devido à combinação de
  juros reduzidos e recursos fartos, ainda há espaço para renovação.  
   
  - A maior parte dos equipamentos está defasada, resultando em menos
  eficiência e mais prejuízo para a produtividade - diz Carlos Pastoriza,
  presidente da Abimaq.  
  
  
O
  consultor Carlos Cogo concorda. Para ele, são as incertezas sobre crédito e
  câmbio que motivam o produtor a puxar o freio de mão.  
   
  Com 1,8 mil hectares cultivados com melão e melancia em Mossoró (RN),
  Francisco Vieira da Costa decidiu diversificar o planejamento. Comprou um
  trator de 215 cv financiado, mas focou no consórcio para adquirir outros seis
  - dois de 75 cv e quatro de 50 cv.  
   
  - Todo ano faço investimento, mas desta vez será menor, porque estou
  preocupado com a situação econômica - afirma o produtor.  
   
  E isso que Costa está longe de terminar o ano em baixa. Com 75% da produção
  exportada e propriedade 100% irrigada, ele trabalha com a perspectiva de
  crescer de 12% a 15% em 2015.  
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